terça-feira, 30 de julho de 2013

Máquina de Escrever


Esse conto também vai sair no Amora Literária, o site é ótimo, espiem lá. (:



Uma vez me disseram que amar era apenas questão de tempo, que – cedo ou tarde – todos passariam por isso.
Perguntei-me: Será?
Tudo que sei é que não sei amar, só sei escrever. Ora, até me apelidaram de Máquina de Escrever durante um tempo, na escola. Sim, aquele objeto que produz vocábulos, sem sentimentos e sem saber sentir, mas que ao mesmo tempo consegue juntar as letras e criar tão belas palavras.
Palavras. Elas são tudo que sempre tive. Apenas as palavras.
Mas não posso ser injusto. Talvez se quisesse teria também as pessoas. Não quis. Não depois de tanto tempo observando, sentado em minha escrivaninha tocando os botões que carimbavam letras no papel, percebi que nunca poderia querer pessoas.
Não julgue! É exatamente por isso – e por outra série de motivos – que não as quero. As palavras sim sabem ser boas companhias. Deixam-me ordená-las como melhor me agradar e colocá-las como preferir.
Talvez eu seja um tanto autoritário demais, por isso não quero nem sentimentos nem pessoas. É impossível controlá-las e tê-las verdadeiramente e, por isso, impossível não se ferir com elas.
Mas ora, também não sei sofrer.
Sei apenas escrever.
E ler.
Pessoas.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Morte Súbita, J. K. Rowling

Assim que vi a notícia de que Rowling lançaria um novo livro, todos os comentários sobre como seria e o que esperavam dele, é claro que pensei comigo: Preciso comprar.
Muito antes da aquisição, já sabia por notícias que não tinha absolutamente nada relacionado com Harry Potter, que era um estilo completamente diferente e até mesmo que muitos estavam criticando. Contudo, não foram esses motivos que me fizeram desistir da leitura, nem mesmo adiá-la.
De fato, realmente demorei a ler, visto que ganhei o livro no natal de 2012 e só agora (23 de julho de 2013) é que terminei. Não sei exatamente porque toda essa espera, mas sempre tive total confiança do talento da autora e sabia que uma hora ou outra ia acabar lendo.
Sem mais delongas, preciso contar que Morte Súbita é um livro completamente diferente do esperado. Sim, porque mesmo sabendo que não seria parecido com Harry Potter, ainda era esse o estilo que todos conheciam.
Os fatos que vão sendo descritos no pequeno distrito de Pagford te prendem à leitura e te fazem questionar quais os próximos passos da história. Para melhorar, a narrativa é ótima, os personagens marcantes e todos te fazem sentir um misto de ódio e amor ao mesmo tempo. Não como a apaixonante Luna Lovegood, nem como a odiável Rita Skeeter, mas sim daqueles que te faz mudar de opinião a cada cena em que aparecem. Entretanto, acima de tudo, preciso dizer que a história é, nada mais nada menos, que a dura realidade da vida.
A cada página o leitor vai descobrindo aos poucos os segredos que cada personagem guarda consigo e percebendo que todos eles tem seus problemas e suas mágoas, incitando sua curiosidade para descobrir como é que esses conflitos serão solucionados.
Porém, para mim a questão é: Na vida, os conflitos são solucionados? Acho que nem sempre, e nem todos. E assim como na vida, no livro a escritora também mostra que nem tudo tem solução, que as coisas podem dar errado e que finais felizes não são a realidade.
O livro pode ser um pouco devagar, um pouco cheio de “palavras de baixo calão” e de histórias difíceis, mas tudo isso só o torna ainda mais real e é impossível não se identificar ao menos com um dos personagens (ou com uma parte de cada um).
Se é melhor que Harry Potter? Nem sim, nem não. É diferente. Muitos podem gostar dos dois, muitos podem gostar mais da saga e muitos também podem gostar mais de Morte Súbita.

Mas uma coisa é certa: Morte Súbita é uma grande história, em vários sentidos.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Guerra

por M. Deméter.


Não consegui postar no fim de semana, como estava fazendo ultimamente, mas ai está o post só um dia atrasado. (: Esse foi escrito para o Céu Literário também, o tema do mês era Guerra e/ou Inverno. Outros textos linkados no final.


Guerra.
Discordamos, gritamos, brigamos. Gritos. Casa barulhenta, filha no quarto, vizinho reclamando. Gritos. Guerra. Telefone toca, ninguém atende. Tic. Tac. Tic. Tac. Tic. Tac. Não adianta. Telefone ainda toca. Gritos, brigas.
Você nem ouve o toque, estridente.
Amor. Dúvida. O que é amor? Você pergunta. Eu te amo. Mentira. Talvez fosse verdade. Tic. Tac. Tic. Tac. O relógio não para. Guerra, sempre aqui.
Tempo. Há quanto tempo? Separação. Por quanto tempo? Tic, tac... talvez o relógio parou. O meu relógio. Frio.
Gritos. Voz grave. Palavras. Amor. O que é amor? Palavras. Guerra. Gritos. Palavras em gritos. Desespero. Passos. Telefone tocando sempre. Porta abre. Porta fecha. Solidão.
Inverno lá fora. Inverno aqui dentro. Álcool para matar o frio? Não. Nada adianta. Nada adianta. Garrafa vazia. Nada adianta.
Tudo que eu queria era você. Aqui comigo.
Sem guerra.



quarta-feira, 17 de julho de 2013

Um Hotel na Esquina do Tempo

Bom, como nunca sei se vou conseguir fazer as postagens semanais ou não, decidi começar a postar resenhas sobre os livros que vou lendo também, são posts mais rápidos e pra quem tem interesse, as vezes até mais interessante.
Não tenho muita prática com resenhas, então peço que me perdoem se as primeiras ficarem estranhas e me deem sugestões do que melhorar. (: Vou tentar fazer de todos os livros que ler daqui pra frente.

Para começar, essa foi postada há alguns dias no Amora Literária, mas pra quem não viu lá, agora está aqui também.


Um Hotel na Esquina do Tempo é um livro fascinante e cheio de emoção. Deparei-me com ele perto do natal de 2012, procurando presentes para alguns familiares e, junto com a minha mãe, compramos o título para presentear o meu pai.
É claro que em meio a tantas opções na livraria, fiquei um pouco na dúvida se levava ou não, mas a sinopse era interessante e na contracapa tinha alguns comentários favoráveis também.
A história se passa em duas épocas diferentes (1942 e 1986) e conta a vida de Henry Lee, um chinês que vive em Seattle. Ele estudava numa escola de brancos, mas só estava lá por uma bolsa estudos, e em troca da educação que recebia precisava trabalhar na cozinha da escola. E é na cozinha que conhece Keiko, uma menina japonesa que entrou na escola com a mesma situação que a dele.
Aí você me pergunta? Tá, mas e daí? Daí que em 1942 estava acontecendo a 2ª Gerra Mundial e a China fazia parte dos Aliados enquanto o Japão atacava os Estados Unidos. Já dá pra presumir que toda essa história gerava um preconceito imenso, o qual é relatado detalhadamente na obra.
Com um pai extremamente ligado às questões políticas e antenado sobre todos os acontecimentos entre China e Japão, Henry se vê contestando tudo que ouvira em casa e construindo laços que transpassam a amizade com a jovem Keiko.
E a história só se complica, porque a guerra piora e as famílias japonesas acabam sendo expulsas da cidade e levadas para Centros de Realocação – que eram basicamente campos de concentração onde eles eram vigiados por soldados e cercados por arames farpados – o que acaba separando o casal oriental.
Durante a narração dos acontecimentos de 1942, Jamie Ford vai entrelaçando os fatos de 1986, ano em que Henry se depara com a reabertura do Hotel Panamá, no qual foram guardados pertences das famílias japonesas que antes moravam no bairro. O protagonista então se vê diante de todas as antigas lembranças e angústias sofridas.

Uma obra que retrata, num misto de doce e amargura, a guerra e todos os estragos que ela causa.

domingo, 14 de julho de 2013

Meia-Noite

por M. Deméter


Bom, pessoal, esse texto eu escrevi para um Concurso de Textos (acho que é isso, chamam de CT) de um grupo lá no Face (A Varanda), o prazo era curtinho (quando eu cheguei tava em quase 30 minutos restando só) então ficou simples de tudo.
Mesmo assim, espero que gostem. Comentários são sempre bem aceitos, bem como seguidores. (:

Tema:
Já pensou em ligar quando você tomou algumas?
Porque eu sempre penso
Talvez eu esteja muito ocupado sendo seu pra me apaixonar por alguém novo
Agora eu tenho pensado sobre isso
Me rastejando de volta para você
(Do I Wanna Know - Arctic Monkeys)



O telefone vibrou em seu bolso.
Quem poderia ser tão tarde? É claro que seus amigos sabiam muito bem que ele estaria acordado àquela hora, ainda mais numa sexta-feira. Mesmo assim, os que tinham costume de ligar provavelmente estavam numa balada de primeira classe ou num barzinho burguês.
Pegou o aparelho. O relógio marcava meia-noite e na tela o identificador de chamadas mostrava um número desconhecido. Apesar disso, decidiu atender.

– John? – a voz era doce, porém totalmente decadente, deixando claro que a mulher no outro lado da linha ou estava bêbada ou chorava, ou até mesmo os dois.
– Quem é? Quem te passou meu número?
– Sou eu, John! A Debby!

Ah, não. Debby era aquela garota que vivia cruzando seu caminho na vizinhança. Já percebera qual era a dela há muito tempo, mas não queria saber de uma patricinha mimada perseguindo-o para onde fosse.
Além disso, ele também não conseguia nem pensar em ficar com ela. Não depois de estudarem juntos toda a infância e de seus pais manterem um relacionamento durante alguns meses.
O telefone apitou nas mãos do rapaz.

– John, só queria ouvir sua voz. – ela continuou com a voz irregular. – Você sabe como me sinto.
– Debby, por favor. Não sei quem te passou meu número, mas não posso falar agora. – tentou inventar uma desculpa.
– Ocupado fazendo o que? Bebendo com uma menina qualquer que acabou de conhecer? John, te conheço há tanto tempo, porque não fala comigo? – ela não fazia muito sentido.

O telefone apitou mais uma vez.
Falar com ela? Mas ele estava falando!

– Tá, já entendi o que ta tentando fazer... – suspirou. – Eu devia mesmo ter aceitado ficar com aquele loirinho, semana passada. Mas não, em vez disso fiquei esperando você olhar pra mim, me dar uma chance...
– Debby, você está bêbada, nem vai lembrar dessa ligação amanhã, chame sua amiga pra cuidar de você, ok? Tenho que ir, estão me chamando...
– Não, John! Eu tô sozinha!

Um barulho no outro lado da linha, ele não conseguiu interpretar. Foi mais como um ruído, algo caindo. O telefone apitou mais uma vez, junto com um grito de fundo na ligação.
A chamada caiu. John olhou para o celular, mas estava desligado.
Sem bateria.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Filhos do Pecado


Olá, leitores. (:
Eu já havia comentado com algumas pessoas que estava querendo fazer mais um conto para o desafio Decadência do Anjo. Tentei fazer algo bem diferente do romance de sempre, por isso, mais do que nunca quero saber o que acharam. 
Fazia tempo que estava com vontade de fazer uma coisa mais suspense e violência (culpa de Dexter e do Carlos Ruiz Zafón isso ai, recomendo a série e o autor pra todo mundo) e preciso agradecer muitíssimo ao meu amigo Felipe Trevisan: coisongo, acho que não ia conseguir terminar isso sem seu incentivo, sério, obrigadão <3.
Enfim, fiquei falante demais nesse post. Espero que gostem. (:


I don’t ever want to let you down
(...)
‘Cause after all
This city never sleeps at night
It’s Time – Imagine Dragons

— Você sabe que precisa fazê-lo, não é questão de querer ou não. – a voz soou irritada.
— Sei, Leah. – a resposta foi um tanto frágil.

A mulher não se deu ao trabalho de responder mais uma vez. Não importava quem faria o serviço, só importava que precisasse ser realizado. Sendo como forma de entrar, sair ou permanecer, não fazia a menor diferença. Importava-se ainda menos que ele o fizesse para impressioná-la: sabia que sim, mas – mesmo que quisesse – não trocaria o líder por aquele reles novato.

— Sabe que jamais a decepcionaria. – admitiu, suplicando por atenção.
— Palavras, Conan. – continuou indiferente. – Fique quieto antes que chame atenção de alguém, vamos terminar logo com isso.

Ele se calou diante daquela ordem, acatando as regras mais uma vez. Nos instantes seguintes tudo que ouviram foram os passos na calçada e a chuva respingando sobre seus sapatos quase silenciosos.
A água dominava a noite mais uma vez, encharcando a cidade já há mais de uma semana. Água essa que tornava tudo mais fácil para aqueles dois indivíduos: encobria a aproximação, silenciaria a ação e limparia a reação.

— Cuidado – cochichou Leah. – Ela deve estar na próxima esquina.

Conan apenas aquiesceu, não daria chances para ser humilhado mais uma vez. Faria sua missão sem atrapalhar a mulher, mesmo que se arrependesse depois. Aquele era seu desejo – ou seria apenas ela? – e mataria para conquistá-lo, para ter aquela chance.
Os dois continuaram caminhando, agora mais devagar, pisando com cuidado nas poças que estavam quase permanentes no chão frio. Viraram a esquina e não foi difícil ver o vulto magro se definindo entre a escuridão e as luzes da rua. Sombra sobre sombra.
O vento que acompanhava a chuva durante toda a noite fazia com que o cabelo da garota balançasse raivoso, quase como um chicote, provavelmente até mesmo machucando sua face. Ela vestia um sobretudo para proteger-se do frio.
Frio. Pelo menos dele a garota sem nome tinha a chance de se defender.
Leah parou, virou o rosto por um breve momento, lançando um olhar ameaçador sobre Conan. Ele sabia muito bem o que aquilo significava, não teria outra chance se arruinasse o ato pela segunda vez – tentara entrar no grupo dos líderes da cidade uma vez, mas não conseguira cumprir o ritual e ganhara uma segunda chance apenas pela reputação de sua família, que era muito respeitada na sociedade do crime.
A garota sem nome não fora o alvo da outra vez, mas era ainda mais importante que o anterior. Sem nome... na verdade aquilo era apenas o que ele gostava de pensar, com medo de que saber o nome dela o fizesse recuar na hora de concluir o trabalho.
Ele afastou-se para dar a volta no quarteirão, como já haviam planejado. Não gostava da ideia de se afastar de Leah, não quando na verdade fazia tudo apenas para poder ficar junto dela. Além disso, a culpa conseguia atingi-lo ainda mais quando se mantinha sozinho naquela cidade fria e ao mesmo tempo tão viva.
Vida essa que por sua culpa iria diminuir ainda aquela noite.
Não se deixou perder em pensamentos. Focou em sua missão. Focou ainda mais no motivo de fazê-la. Conhecia muito bem a lenda das atitudes de Leah depois de terminar os serviços. Até mesmo o líder sabia e nem mesmo ele ousava interferir.
Conan pagaria o custo que fosse para tirar a prova.
Chegou finalmente por trás da garota sem nome. O equipamento preparado. Visualizou a companheira à espreita, aguardando. Aproximou-se rapidamente da anônima, prendendo-a com facilidade em seus braços muito mais fortes, bloqueando suas vias aéreas até que ela perdesse o sentido.
Leah se aproximou e ergueu logo as pernas da garota, guiando-os para o beco ao lado, no qual não havia risco de ninguém contemplar a ação. Os fios de cabelo que antes chicoteavam a face da garota agora eram arrastados no chão com o peso da água que escorria sobre as madeixas.

— Você deve fazê-lo.
— Eu sei, Leah! – dessa vez sua resposta foi um tanto desesperada.

Depositaram o corpo desacordado no chão, deitando-o sobre uma cama de água gelada. As pálpebras da garota sem nome tremeram. O frio a faria acordar logo.
Conan sentou-se ao lado dela, a faca em mãos, apenas aguardado que aqueles olhos se abrissem. Leah, porém, não era tão paciente. Aproximou-se, agarrou o rosto da garota e esfregou-o no chão irregular. A resposta veio num grito.

— Até que enfim, meretriz preguiçosa. – sibilou irritada.
— Leah, por favor. – ele pediu nervoso.

A anônima tentou levantar e foi bloqueada pelos braços do homem mais uma vez. Esperneou, tentou mordê-lo e gritou. Sem sucesso. A companheira agora se acomodou sentada sobre o corpo da sem nome, encarando o rosto vermelho da garota que olhava aflita.

— Faça de uma vez se não quer que eu interfira. – praguejou com as mãos no rosto do rapaz, os lábios molhados de chuva e muito próximos dos dele.

Conan ergueu a faca e – com o olhar fixo nos lábios da companheira – deslizou-a pelo corpo da garota, devagar e suavemente, apenas fazendo com que a lâmina cortasse a superfície da pele. A sem nome respondeu com gritos, o corpo preso contorcendo-se por baixo de Leah.
Os dois continuaram juntos, as mãos dela apertando um pouco o seu rosto, tão próximo que ele não conseguia resistir. Lábios se tocaram, apenas para se afastarem sem nenhum movimento no intervalo de ações.

— Termine. – ela pediu cheia de desejo, talvez a lenda fosse verdadeira.

Conan apertou o punho da faca entre os dedos frios. Os gritos da garota sem nome abafados pela chuva e pelo gosto daqueles lábios que tanto desejava. Deslizou a lâmina até o peito e cravou-a ali, bem onde sabia ser o coração. O sangue deslizou na pele branca de Leah e correu com a água para um bueiro próximo.
A companheira puxou-o para si, agora sim beijando-o com vontade. O prazer da vida escapando diante de seus olhos preenchendo sua mente. A perna que antes prendia a anônima agora passava pelo quadril de Conan, que mesmo não sentindo prazer na morte, não resistia à mulher em seus braços.
Leah nunca trocaria o líder por um reles novato, mas até mesmo o líder sabia que sua reação seria a mesma com qualquer que fosse o companheiro.
Conan, por sua vez, pagaria o custo que fosse preciso para tê-la em seus braços. Fazer parte da gangue garantia muitos trabalhos em equipe. Se o preço para tê-la – mesmo que por breves momentos – era a morte de falsos anônimos, ele pagaria com prazer.
Para sorte do rapaz, a lenda afinal era verdadeira.