domingo, 8 de julho de 2012

Presente do Amor


Esse texto foi escrito em Setembro de 2011. 

Dedicatória: Ao Lipe, pelo seu aniversário. Parabéns, Lipongo.



Ela encarava o papel com um olhar totalmente concentrado e os movimentos de sua mão iam fazendo a caneta correr pela folha, dançando de forma rápida e inconstante.

Riscava, corria, parava. Voltava, riscava, riscava, riscava.
Continuava, voltava e riscava.

Seus olhos – preenchidos por aquele azul intraduzível – não conseguiam sentir-se satisfeitos com o que viam, e por isso a mão daquela garota insistia em voltar e riscar tudo que a caneta havia deixado. Mas ela não desistiria... Ah, não, ela sabia muito bem a importância que aquilo tinha que carregar, os sentimentos que tinha que passar – ou pelo menos achava que sabia, porque na verdade sua mente era só dúvida e incerteza.

Seus olhos – preenchidos por aquele azul hipnotizante – estacavam, paralisados pelos pensamentos que insistiam em rondar sua imaginação. Ela não iria demorar muito para perceber que o problema em escrever aquele presente eram as dúvidas que ela teimava em não admitir.

Será que o amo?
...


Amo! É claro que amo.
Mas como?

A caneta caiu de sua mão e ela nem mesmo percebeu, seu olhar continuava fixo na folha. O corpo da garota se estendia na cama de lençol azul, combinando com seus olhos. E os pensamentos dela finalmente chegavam naquela questão.

Ela mergulhava em lembranças e a única coisa que era possível observar era seu sorriso pacato no rosto suave. Suas memórias voavam, como que levadas pelo vento – aquele vento que um dia, num presente, disseram que era seu pai.

Sim, sei que o amo.
Amo de várias e várias maneiras.
Como ele mesmo me disse uma vez:
“Talvez nos déssemos melhor como irmãos”
É, como um irmão...
Quem sabe...

E subitamente ela – a garota filha do vento e com os olhos intensamente azuis – pegou a caneta. Sua mão arrancou a folha rabiscada e deixou-a de lado, abandonada, para em seguida começar a formar a dança que teria coragem de enviar ao seu amigo.


Eu poderia – e queria – escrever muitas coisas para você, mas não adianta, nada nunca chegaria aos pés daquilo que você realmente merece, porque eu não tenho capacidade para fazer algo que seja bom o suficiente para te agradecer, para te mostrar o quanto você é importante na minha vida.

Uma vez uma querida amiga nossa me perguntou o que era o amor, e eu fiz um texto para responder aquela questão. Dividi o amor em vários tipos, e desenvolvi apenas quatro, os que considerava mais importantes. Mas não sei, o amor que sinto por você é indeciso e vive pulando entre as opções – na verdade, às vezes muda até o próprio nome.

Mas sabe o que acabo de descobrir? Não importa. É, não preciso classificá-lo, não preciso entendê-lo, muito menos estudá-lo... você mesmo uma vez escreveu que basta vivê-lo. E é isso que vou fazer. Não me importo com o que ele seja, vou apenas vivê-lo.

E por isso eu te digo isso – na verdade não digo, apenas escrevo – hoje, e sempre que precisar ouvir.

Eu te amo.

E a caneta novamente caiu de seus dedos. Sua mão pegou delicadamente a outra folha antes abandonada, seus olhos passaram por ela com dificuldade, seus dedos dobraram o papel e ele foi deixado numa caixinha de pequenos tesouros – onde ninguém, além da própria autora, poderia ler. E a outra folha logo estaria nas mãos de seu destinatário.

Fim.



PS: Só mais um detalhe, só eu realmente posso entender o que se passa pela mente dessa garotinha que sempre me foi tão querida. Porque eu sou o amor. Mas não tenho nenhuma intenção de explicar como entro em ação – pelo menos por enquanto.



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