domingo, 8 de julho de 2012

Memórias Inesquecíveis


Este texto foi escrito em Junho de 2011, para o desafio Dia dos Namorados.
 
Agradecimentos: A Lisa e a Bis, que me ajudaram com suas opiniões.



Minhas mãos corriam pelas páginas e fotos do álbum preservado por tanto tempo, o álbum que relembrava todos os momentos importantes da minha vida, desde meu nascimento, até a fase em que me encontrava agora, a velhice. Mas a pergunta que não queria sair da minha mente era apenas uma: Por quê?

Por que eu abria aquele álbum? Por que eu insistia em encarar aquelas fotos? Por que sempre as mesmas fotografias? Por que sempre aquelas mesmas memórias? Por que sempre as mesmas lembranças?

Talvez fosse apenas por puro masoquismo, e essa resposta já fora considerada pela minha mente várias e várias vezes. Mas o que importava realmente a resposta? O fato é que meus olhos não podiam desviar de uma seção do álbum, aquela que tinha as nossas fotografias.

O fato é que eu realmente sentia sua falta.


Não se esqueça que é impossível deter uma lembrança quando ela aparece em sua mente, e mais difícil ainda quando você procura por ela.


Ainda me lembrava, como se fosse ontem, como se minha frágil memória idosa não aceitasse apagar um dia tão importante como aquele doze de junho. Um triste dia dos namorados, o mais triste de toda minha vida.

Iríamos completar quatro anos juntos naquela data, e eu tinha uma notícia tão importante para compartilhar, estávamos noivos e nosso casamento era dali a alguns meses apenas. Estava tão feliz.

Meu ventre carregava agora a sua semente.

Andava apressada, havia uma rua para atravessar antes da praça onde marcamos – você estava lá, olhando para os lados me procurando – e eu não sei se foi um descuido, ou apenas o destino e suas tramóias, mas quando meus passos me levaram ao meio do asfalto, a única coisa que consegui ouvir, antes de perder seu rosto para a escuridão, foi uma freada violenta.

E então o baque. O choque. O carro contra meu corpo.


Ah, não, lembranças não podem simplesmente serem apagadas com uma borracha, às vezes elas são permanentes.


Talvez sem aquele acontecimento, meu álbum agora poderia conter outras lembranças, quem sabe uma foto como a primeira, onde aparecia minha mãe segurando o meu eu recém-nascido. Talvez eu também tivesse uma foto segurando um bebe, o meu bebe.

Uma lágrima marcou o álbum.


Memórias na maioria das vezes são escritas a caneta, e na vida real, infelizmente, não existe corretivo.


Acordei no quarto claro do hospital, você me encarava com os olhos vermelhos. Deduzi na hora, você estava chorando, minha mão correu até meu ventre. Eu sabia que não havia mais nada ali.

Eu estava vazia.

Não conseguia entender como poderia sentir tanta falta de algo que nunca nem cheguei a conhecer, tudo parecia ter sido apenas um sonho, era como se nunca tivesse existido nenhuma criança, mas ao mesmo tempo, como se perdesse a coisa mais preciosa que possuía.

Você me abraçou forte e senti suas lágrimas molhando minha roupa. Aquele era um momento só nosso e ninguém poderia aliviar nossa dor.


Fatos tristes, fatos felizes, são eles que moldam nossas vidas.


E mesmo agora, depois de tantos anos, eu ainda sentia falta daquela criança.

Várias pessoas me perguntavam se eu estava bem, sempre concordava dizendo que sim, que não poderia sentir falta de uma coisa que nunca nem chegou a existir, mas era apenas uma mentira, eu sentia falta dela mais do que de qualquer coisa.

E pensando agora, talvez o que me fizesse falta na verdade, fosse o fato de ter me tornado estéril depois do acidente, ter perdido a única oportunidade que tinha para ser mãe.

Então a sua mão apareceu ao meu lado, fechou o álbum e colocou-o de lado, você se ajoelhou de frente para mim e me abraçou forte. E pelo menos isso eu ainda possuía, você. Mesmo sem filhos, pelo menos nosso casamento fora eterno.


Lembranças marcantes são apenas eternas, desista de esquecer.

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