domingo, 8 de julho de 2012

Memórias de Papel


Esse texto foi escrito em Outubro de 2011, como presente ao Gabriel. Memórias de Papel era um apanhado de capítulos seguindo o plot de base, cada um escrito por um amigo.



 Capítulo Extra
A Garota do Espelho
M. Deméter

Gabriel já não esperava nada quando caminhava para fora da biblioteca, estava atrasado para sair daquele local, não poderia se demorar muito mais lá, mas no fundo ele sentia falta de algo.

E tinha razão nesse sentimento, teve certeza quando viu um objeto refletindo a luz externa. Não hesitou em se aproximar, era um livro de cor azul clara e sua capa parecia ter partículas de algum material espelhado, ele refletia levemente o que estava ao seu redor.

O garoto abriu a capa com delicadeza e sentiu como que viajando entre dois mundos.

***

Suas pálpebras se abriram novamente se deparando com uma terra estranha. Era um mundo de espelhos, desde ao solo até o céu, tudo refletia – nem tudo como um espelho normal, algumas coisas refletiam menos, outras mais.

Gabriel levantou-se e seus olhos logo avistaram uma silhueta sentada numa pedra. Era uma garota, ela estava encolhida e ao se aproximar, o garoto percebeu que ela chorava.

– O que houve? – ele perguntou preocupado, mesmo sem reconhecer aquela criatura.

A garota assustou-se e virou rapidamente, quando seus olhares se encontraram, Gabriel sentiu que tudo ao seu redor se iluminava, constatou que aquela criatura a sua frente possuía asas delicadas e azuis, e sua pele era muito pálida.

Era uma fada. Ela logo limpou o rosto, secando as lágrimas e correu para abraçar o garoto.

– Achei que não conseguiria mais encontrá-lo. – ela falou com uma voz triste.

– Eu te conheço? – perguntou confuso.

– Ora, talvez nesse momento não se lembre muito bem, visto que estávamos num local completamente diferente quando nos encontramos pela primeira vez. Porém, tenho certeza que se buscar em sua memória perceberá os traços em comum. – a fada explicou.

Gabriel não precisou de muito esforço para se lembrar, a cada palavra ouvida imagens apareciam em sua mente. Claro, ele já havia encontrado-a, mas na ocasião, ela era apenas uma humana no seu mundo.

– Ah, mas ainda bem que você chegou, fiquei tão aflita pensando que não conseguiria te encontrar novamente. – falou enquanto mais algumas lágrimas escapavam de seus olhos azuis. – Preciso buscar algo para você, serei rápida.

O menino observou quase paralisado enquanto ela sobrevoava um jardim de rosas azuis e espelhadas, para logo em seguida adentrar uma pequena casa semi-translúcida. Na ausência da fada, tudo ficava um pouco mais escuro e opaco, como se ela fosse a responsável pela saúde daquele mundo.

Gabriel continuou analisando tudo que estava ao seu redor, ele sabia que teria pouco tempo para gravar todos os detalhes daquele mundo em sua mente, logo voltaria à realidade, assim como acontecera em todos os outros livros que adentrara. O céu era azulado, mas era tão diferente – e mágico – ver tudo que estava ali no solo refletido, pequenininho, lá em cima; as árvores pareciam todas como que congeladas, seus troncos eram muito mais lisos e suas folhas pareciam mais resistentes; tudo era dominado por um tom azul, que mesclava entre claro e escuro, devido ao reflexo do céu.

– Ora, ora, vejo que a magia desse mundo também está te conquistando. – a fada falou de repente naquela voz suave, assustando o garoto.

Mara colocou sua mão sobre o ombro de Gabriel e deu-lhe mais um abraço, este mais apertado.

– Bom, antes de partir, quero que aceite meu pedido de perdão, achei realmente que não conseguiria te encontrar aqui, fico tão feliz que tenha me achado. – ela admitiu com um tom culpado.

Então, logo após pronunciar aquelas palavras, ela soltou-se do abraço e esticou a mão direita em direção ao amigo. Sua palma estava vazia, mas ao fechar e abrir os dedos, um pequeno embrulho – também azul e espelhado – apareceu onde antes nada havia.

– Um singelo presente, para que sempre se lembre de mim.

***

Gabriel sentiu seu corpo encostando sobre o chão úmido da biblioteca, o livro estava caído ao seu lado, fechado, e em cima dele estava o embrulho. O garoto abriu-o com cuidado e descobriu um pequeno espelho com moldura azul, mas ao olhar seu reflexo, o que viu ao fundo não foi a biblioteca, e sim aquele mundo espelhado.

Se olhasse com ainda mais atenção, poderia ver por um breve instante a fada de asas azuis, sorrindo, apenas para desaparecer mais uma vez.

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