domingo, 8 de julho de 2012

De Nuit plus Sombre



Este texto é uma Fanfiction de Harry Potter, foi escrito em Março de 2011 para um desafio intitulado Noites.

Agradecimentos: A Lisa e ao Lipe, por terem me ajudado com suas opiniões tão importantes. E a Dora, não como puxa saquismo, mas por ter me estimulado a escrever mesmo estando sem tempo, não me arrependo de ter deixado de estudar pra escrever. Obrigada.

Dedico essa fic em especial para a Dora, mais uma vez, ressaltando que não é puxa saquismo. Sei que seu aniversário está chegando, e como estou com meu calendário e relógio bem apertado nos últimos dias, gostaria de oferecer esse texto, por mais humilde que seja, como presente para você, uma amiga que está sempre preenchendo meus dias de alegria. Obrigada mais uma vez. E parabéns.





Que é que eu faço?
É de noite e estou viva.
Estar viva esta me matando aos poucos...
– Clarice Lispector –


Fechei seus olhos com meus dedos trêmulos, a ideia de nunca mais poder vê-lo não parecia real para mim, era simplesmente inaceitável.

- Vamos, Hermione? – Ron me perguntou calmo, enquanto me aninhava.

Não conseguia compreender como ninguém enxergava a relação tão clara que eu e Severus mantínhamos. Mas isso não importava agora, nada mais importava, porque ele não estava mais comigo, ele sempre soube qual seria seu destino e eu sabia, ou queria acreditar, que fora por aquele motivo que tantas vezes tentou se afastar de mim.

Nunca imaginei como seria passar por uma coisa assim, era como se tudo de pior que existisse no mundo estivesse se juntando e entrando em meu coração, como se minha vida estivesse perdendo sua cor, como se tudo fosse apenas o negro, a noite, o ruim.

Percebi o infantil e desastrado Weasley, ainda ao meu lado, pronto para balbuciar aquelas palavras novamente, querendo me tirar daquele lugar, e a única coisa que desejava era gritar para ele que me deixasse sozinha, que me desse um último momento com o primeiro e último homem que realmente fora importante em minha vida, que realmente amara.

Eu evitava as lágrimas com todas as minhas forças, mas tinha certeza que não seria o suficiente por muito tempo, respirei fundo para soltar algumas palavras quase inaudíveis.

- Espere lá fora.

Ele, como o obediente que sempre fora, cumpriu a semi-ordem sem pestanejar. E no momento em que fiquei sozinha, minhas forças se dissolveram em lágrimas, abracei o corpo frio e inerte que estava ao chão com os olhos fechados, beijei-lhe os lábios uma última vez, como se por algum milagre, o ato pudesse fazer com que ele acordasse do sono eterno. Foi então que ouvi.

Uma voz invadiu minha mente murmurando palavras estranhas e desconexas, porém as frases e sons foram tomando forma, e logo pude ouvir claramente, era o mesmo timbre de Severus, aquele tom sedutor que sempre usava comigo.

Em meio ao ar gélido daquela noite, e ao gosto daquele nosso último beijo, Snape me chamava para ir com ele, convidava-me para partir numa viagem que seria apenas nossa, que estaríamos juntos para sempre. Conseguia sentir seu hálito atingindo minha pele, e sua voz me fazia tremer.

Um lado de minha mente, o realista, gritava que eu estava ficando louca, que ele estava morto e aquilo não passava de alucinação, o outro lado, porém, contradizia enfatizando que aquilo era real demais para ser mentira, que ele realmente poderia estar ali, me chamando.

Afinal, porque não? O mundo bruxo também parecia uma mentira, para mim, antes de conhecê-lo, então porque aquele mundo que Severus me convidava não poderia também ser real? Claro que poderia. E isso anunciava o segundo lado como vencedor.

Ele me chamou novamente, não resisti e olhei para o lado de onde a voz parecia vir, e ali estava ele, em pé, com seu porte elegante ao me encarar, a mão um tanto estendida, como que me convidando para segurá-la.

- Hermione, está me deixando preocupado – Ron chamou entrando novamente na casa.

Desviei meus olhos de Snape, não compreendia o porquê de Ronald não estar olhando para ele como deveria, afinal, ele estava morto, porem ali, em pé, bem ao meu lado, apenas me esperando.

- Hermione? – perguntou mais uma vez.
- Me deixe em paz! – gritei.

O ruivo ficou me olhando boquiaberto, aquela certamente não era a reação que esperava da amiguinha e praticamente namorada sempre tão gentil.

Eu gostava dele, claro que sim, era um grande amigo, mas estava cansada de ouvir todos eles falando mal do homem que tanto desejei, cansada daqueles mesmos discursos, daquela falta de confiança que tinham por ele, e principalmente, daquele desprezo.

E mais algumas palavras foram trocadas entre nós, palavras rudes, que certamente estariam carregadas de arrependimento mais tarde, mas eu não poderia simplesmente ouvir alguém desonrando seu nome e ficar calada. E após algumas ofensas, a única coisa que Ron conseguiu fazer foi dar meia-volta e retornar para a noite fora da casa.

Olhei para a alucinação mais uma vez, e quando nossos olhares se encontraram, tudo que estava em volta já não importava, a voz invadia minha mente repetindo que me amava e ainda me convidando para nossa viagem eterna.

Andei até ele, apenas alguns pequenos passos, e toquei em sua mão.

Uma lágrima escorreu em meu rosto de forma rápida, não senti sua carne, não senti sua temperatura, nem ao menos sua pele. Nada.

A alucinação se dissolveu no ar, e apenas num piscar de olhos, já não poderia dizer o que havia ali antes, apenas o corpo permanecia inerte ao chão.

Enxuguei meus olhos e sai da casa, a lua brilhava no céu limpo e cheio de estrelas. Não pretendia mais visitar aquele lugar repleto de lembranças.

Encontrei Ron sentado logo adiante, em seu rosto brilhava uma lágrima, caminhei até ele e balbuciei a única palavra que poderia, e deveria, ser dita.

- Desculpe.

Ele se levantou, beijou minha testa e me abraçou forte. Fiz tudo o que conseguia naquele momento. Chorei.


E a noite dominou-me por completa,
Porém, no meu céu,
Nem as estrelas, nem a lua,
Conseguiam mostrar sua luz.

E agora, e para sempre, era apenas o negro.

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