domingo, 8 de julho de 2012

Behind the Mirror



Este texto é uma Fanfiction de Harry Potter, foi escrito em Agosto de 2011 em parceria com Dora Russel, para o desafio de Personagens Secundários, no qual foi classificado em 2° lugar.

Agradecimentos: À Lisa, pela opinião e por ser uma amiga/filha/afilhada tão maravilhosa. E à Frô/tia, também por ser a pessoa maravilhosa que é (estamos com saudades sua coisuda).





Como sempre, eu,
O símbolo sombrio de Slytherin,
Deixava meras lembranças
Dominarem-me.

Mais uma vez meus desejos inomináveis fizeram-me flutuar até aquele local, parar em frente aquele espelho secular. Mais uma vez meus pensamentos me levaram até aquela sala, apenas para que eu pudesse olhar a superfície daquele objeto e ver nele os meus sonhos, ver nele minhas mais profundas – e erradas – vontades.

Não era fácil resistir,
Não era fácil lutar contra elas.
Por isso eu me rendia
As lembranças que jamais existiram,
Que apenas me atormentaram.

Qual não foi minha surpresa na primeira vez que me deparei com aquele espelho? Eu, como um fantasma, não podia ver meu reflexo nos espelhos comuns, e muito menos naquele. Mas, ah, no Espelho de Ojesed eu podia ver muito mais que um mero reflexo, via o que sempre sonhara fazer, o que sempre sonhara em ter, mas que nunca conseguira conquistar.

Naquela sala eu me satisfazia.
Tudo que sempre sonhei,
Tudo que sempre quis,
Estava ao alcance de meus olhos...
Mas infelizmente não de minhas mãos.

Ela chegava como uma brisa de verão no espelho sujo. Brilhava com seu sorriso, irradiava alegria... Ah, totalmente diferente da Helena que conheci há muitos anos atrás. Mas eu, como um tolo apaixonado, sempre me deixava levar por aqueles olhos calorosos, que me aceitavam como eu nunca fui aceito quando tudo aqui era palpável.

Por mais que eu tentasse,
Não conseguia abdicar dos meus sonhos.
Lutava todos os dias contra aquilo,
Mas sempre acabava voltando,
Apenas derrotado...

Por detrás do vidro nos encarávamos com amor. Por detrás daqueles átomos mágicos de sílica¹ sua pele tocava a minha. Meus olhos observavam – e apenas isso me era possível fazer – seu rosto tão próximo ao meu, nossos corpos tão cheios da vida que não possuíamos mais.

E por mais uma noite, eu me traía.
Deixava que minhas lembranças
Tomassem conta daquele ambiente.
E por mais uma noite, eu perdia a batalha,
Buscando meu inimigo no espelho vazio.

E sabia que a cena a se aproximar era aquela cuja eu via todos os dias, mesmo quase não resistindo ao ferimento que ela me causava. Sabia que não demoraria a chegar o momento em que não só os seus dedos acariciavam meu rosto. Mas também nossos lábios se tocariam.

Eu procurava apenas pelo amor
Daquela que sempre desejei.
E encontrava-o sempre,
Criando a mesma cena repetida e irreal,
Como sempre foi.

Aquela mulher que amei desesperadamente – pela qual sacrifiquei minha vida – apenas me recompensava com seu amor nesses momentos (ir)reais. Eu deixava que meu corpo caísse em direção ao chão frio, mas minha condição de existência impedia-me de senti-lo, enquanto minha mente era hipnotizada pelos lábios carnudos de minha Helena... Ah, minha jovem e linda Helena.

Nosso encontro encantado,
E na verdade inexistente,
Era tudo que eu pensava.
Seu gosto me invadia,
Mas na verdade só eu o imaginava.

A fantasia do nosso beijo era tão real em minha mente que eu até mesmo pensava senti-lo, porém, se não me lembrava nem o gosto das refeições, nem os aromas das flores, como me lembraria realmente os sentimentos do bailar inexistente de nossos lábios? Ah, não, eu apenas sonhava que isso era possível.

Nesses momentos de redenção,
Eu pensava estar ficando louco de vez.
E então vinha a realidade dura como sempre,
Mostrar-me que um fantasma não sente
Sequer a mínima loucura.

Desejava voltar a sentir aquilo, e os meus pensamentos – que eram tudo que eu ainda tinha – mostravam a imagem captada por detrás do espelho. E era também em torno de meus pensamentos que eu mergulhava, explorava-os até o ponto de perder-me em minha própria mente. Um fantasma louco, isso era o que eu seria caso fosse possível ser realmente algo.

Olhei em despedida
Ao espelho dos desejos.
E então lutei contra
As lembranças que nunca existiram.
Admirei a cena mais um instante.

Olhei para a superfície do espelho mais uma vez – uma última vez, ou pelo menos seria a última naquela noite – e vi o nosso beijo ilusório, nossos lábios não ousavam afastar-se um do outro. Ah, mas os meus olhos tinham que fugir, eu tinha que fugir. E foi com aquela certeza que me virei renegando a imagem refletida no objeto. Foi àquela certeza que me levou a flutuar para longe daquela sala mais uma vez.

E por mais uma noite,
Eu havia sucumbido aos desejos antigos.
E por mais uma noite,
Eu me traí com Helena e o eu do espelho.
E por mais uma noite,
Eu perdi a batalha contra essas lembranças.
E, por mais uma noite,
Eu tive a confirmação de quão fraco
E humano ainda era.


¹ sílica é o material usado na fabricação da maioria dos vidros.

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