segunda-feira, 9 de julho de 2012

Nós


Este texto foi escrito em Setembro de 2011, para a Revista Janelas (que era organizada em uma comunidade chamada O Sótão). Como ele estava numa pasta separada, esqueci de postar antes de chegar nos desse ano.



No beiral da janela, eu via a linha da estrela cadente cortando o céu, marcando todo seu caminho, como que separando em dois aquele manto escuto com pontinhos de claridade. Separando também a realidade da imaginação.

Em minha mente, sentia os pensamentos se formando e já esperava pelas lágrimas que eu sabia que, inevitavelmente, também iriam surgir.

A luz ia passando pelo céu para em seguida desaparecer por trás das árvores, enquanto as lembranças preenchiam minha mente.

Saudade. Ah, sim, era ela que me dominava e causava todas aquelas lágrimas. Aquela vontade de voltar ao passado, aproveitar as oportunidades perdidas e mudar o rumo que minha vida havia tomado. O desejo de salvar as relações que apenas por minha culpa tinham se perdido, de concertar os meus erros, ou melhor, não cometê-los.

Mas o tempo já havia passado e a máquina de regressar nele – pelo menos por enquanto – não existia. Tudo que eu podia fazer era olhar para aquele caminho e, baseado nele, tentar criar uma rota futura e iluminada, tentar seguir o brilho deixado por aquela estrela – que quem sabe não poderia ser você –, mesmo que no fim ela acabasse na escuridão, afinal, todos nós terminávamos lá, não é mesmo?

Mas, no fundo, tudo que eu poderia fazer era tentar ver o passado com carinho e perceber que nada nunca voltaria. Que eu e você estávamos acabados de verdade e para sempre. Que tudo que eu poderia ter eram lembranças, aquelas memórias que nunca conseguiria – nem queria – esquecer.

Tudo que eu tinha, na realidade, era a Saudade. A saudade do nós que nunca mais existiria – ou que talvez nunca tenha existido de fato.

domingo, 8 de julho de 2012

Os Presentes de Liz



Agradecimentos: À Lisa, por me dar o plot, por ter paciência de me aguentar, por conseguir ler tudo isso e ainda achar bom. Por ter me pedido para ser minha filha de consideração e por ter um papel tão especial na minha vida. Te amo, minha mosntrinha. E vamos fingir que isso é um presente de aniversário atrasado, ok? Pode mandar pra todo mundo agora. <3



Seus dedos acabavam de ajeitar o laço finalizando a bela embalagem, era o primeiro presente que Liz enviaria, o primeiro que ninguém escolhera por ela, ninguém arrumara por ela. E apesar de parecer algo insignificante, para aquela garota, um presente era muitíssimo especial. Mais do que ela poderia imaginar.
O destino daquele embrulho era para sua professora de francês, Srta. Russel, uma mulher muito querida por sua única aluna. Liz colocou o presente na caixa de correio da educadora – junto a um cartão contendo seu nome escrito caprichadamente – e no momento em que virou as costas para a casa sentiu um arrepio, olhou para trás instintivamente e esfregou as mãos nos braços. Respirou fundo. Aparentemente nada estava errado naquela cena. O vento quente do verão dissipou a sensação e a garota continuou seu caminho enquanto seus fios acastanhados balançavam com a brisa.
Mas, infelizmente, aquele vento não podia sussurrar à menina o que aconteceria a seguir.

***

A janela do quarto de Russel batia incansável, até o momento em que a mulher venceu a preguiça e levantou para fechá-la e acabar com o barulho irritante. O detalhe que ela não refletiu foi que para bater, a janela precisava estar aberta, e apenas algo físico e intencional poderia abri-la. A criatura entrou na casa antes que a proprietária chegasse ao seu destino, escondeu-se no quarto esperando a senhorita voltar.
Os passos de Russel ecoavam no corredor recoberto por um piso de madeira, um a um, avisando ao invasor sobre a aproximação. Sua sombra apareceu na porta, e foi crescendo até que a mulher adentrasse ao recinto. E então aconteceu.
Uma mão gelada em seus lábios. Um braço abraçando seu pescoço. De repente. Uma lâmina afiada em seu tórax.
Um grito abafado.
A lâmina novamente, no abdômen. E mais uma vez. Até que a mulher perdesse suas forças e desmaiasse nos braços do misterioso. Um desmaio do qual ela nunca mais acordaria.
A criatura então a deixou no chão, saiu da casa e antes de ir embora levou consigo o caprichado embrulho.

***

Em sua próxima aula de francês, Liz estranhou a ausência da professora, e só então, após algumas ligações, ficou sabendo do ocorrido. Uma tristeza desconhecida se instalou em seu coração, era a primeira vez que a menina perdia algum amigo próximo, e mesmo que Russel fosse sua educadora, era uma ótima amiga. Mas a vida segue em frente, e embora Liz nunca fosse esquecer a mulher, a tristeza também não tomaria conta de sua existência.
As semanas passaram e os ares quentes do verão se foram junto com suas aulas de francês, agora o outono dominava a paisagem, as árvores estavam secas e as folhas voavam sem saber qual seriam seus destinos. Junto com uma dessas folhas, a menina do embrulho caminhava, seus dedos seguravam uma embalagem um tanto desengonçada, tão antagônica com aquela anterior. Mas cada estação carrega seu embrulho e seus acontecimentos.
Liz chegou à porta da casa de Lopez Trevisan, seu querido amigo de escola, parou por um instante, cogitando qual seria a melhor opção para aquela entrega. Decidiu por fim a deixar o embrulho lá com o cartão, ele o encontraria quando saísse, não tinha certeza se estava preparada para olhar em seus olhos novamente – eles haviam brigado e aquele era o pedido de perdão.
As folhas continuavam dançando levadas pelo vento, e a garota partiu sentindo-se incomodada com a situação entre ela e o amigo, e torcendo para que tudo se resolvesse. Mais uma vez seus fios acastanhados balançavam quando ela voltava para casa, a diferença é que dessa vez o vento era bem mais forte.
E o que o vento não conseguiu informá-la, foi o que já havia acontecido naquela residência momentos mais cedo.

***

Lopez segurava sua xícara de cappuccino enquanto seus olhos caminhavam pelas linhas de um grosso livro, estava sentado em frente à janela semi-aberta, a brisa balançava a cortina cinza – sua cor preferida – e seus lábios encostavam no líquido quente entre uma página e outra. A substância passava por sua garganta e percorria seu sistema digestivo, e em alguns minutos o livro estava caído ao lado do corpo inerte, a bebida restante manchando suas folhas.
Diluído entre leite, chocolate e café, havia um veneno mortal.
O pedido de desculpas de Liz nunca foi entregue, e nada foi encontrado na porta quando a polícia chegou ao local, o culpado pelo envenenamento levara mais um embrulho consigo, e mais uma vítima em sua linha do destino.

***

Nossa protagonista nunca foi uma menina desprovida de inteligência e sabedoria, e mesmo que sua vida nunca tivesse sido uma história fantástica de ficção, ou talvez um seriado criminal, ela não demorou a notar a relação entre as vítimas. Ambas eram conhecidas, e ambas haviam sido presenteadas por ela.
Enquanto esse pensamento atormentava sua cabeça, seus olhos encontraram dois embrulhos – que não estavam lá no dia anterior – abandonados em cima da mesa. Se antes ainda existia alguma dúvida, agora Liz tinha certeza, os presentes estavam sim relacionados às mortes. Seus dedos abriram quase desesperados os pacotes, esperando encontrar ali alguma pista ou explicação para os fatos, que mais pareciam tirados de um daqueles livros que ela lia incansavelmente.
Esperava encontrar, e encontrou.
Assim como ela, a criatura também gostava de cartões, contudo, Liz não tinha o costume de assiná-los, ao contrário de R., cuja letra estava gravada no papel delicado.
Lembrou-se então do presente que enviara no dia anterior, à Maia Deméter, sua mãe, que estava em outra cidade por culpa de uma palestra. Não era nenhuma data especial, mas Liz sentia falta dela e não resistiu ao encantador pingente branco – como a neve – e translucido, junto a uma corrente num tom de bronze.
Sua mente ágil e desesperada rapidamente maquinou um plano para acabar com aquilo, não tão seguro, claro, mas nos momentos de aflição não existem planos sem pontas soltas e possibilidades de falha. Alguma coisa precisava ser feita, a menina sempre tivera a sorte ao seu lado e não acreditava que ela lhe viraria as costas naquele momento.
Escreveu um cartão às pressas, a caligrafia corrida, brusca. Apenas duas palavras:

Para R.

Correu até o correio e enviou, pedindo que o tempo estivesse ao seu favor. Que a sorte estivesse ao seu lado. Entretanto, e infelizmente, a sorte não pode te acompanhar a vida toda. E o tempo não se prende a ninguém, não toma partido.

***

O relógio cuco batia doze vezes, meia-noite. A lua brilhava no alto do céu sem estrelas. R. olhava para M. encarando-a. Um olhar não correspondido, Maia dormia, um sono sem sonhos e sem preocupações, um sono não tão pesado para uma mulher cansada. Rae era o nome da criatura, sua aparência era de mulher, seu cabelo escuro como a noite, ela pegou um travesseiro e sentou-se na cama, deixando seu corpo encostar-se ao de Deméter, sem se preocupar em acordá-la ou não. Um par de olhos se abriu.
O azul encarou o negro. Assustado.
Rae tinha movimentos rápidos, e num pequeno instante o travesseiro quebrou o contato visual. Escondeu o rosto dos olhos azuis. Abafou um grito. O objeto se manteve no lugar por alguns segundos – os quais pareciam incontáveis dependendo do ponto de vista –, apenas o suficiente para que uma vida abandonasse um corpo já pálido.
Cumprindo seu ritual, a criatura seguiu calma até a frente da casa para pegar mais um embrulho. O que ela não sabia era que seu destino já estava traçado, sua maldição era cumprir com a maldição da menina, duas almas interligadas. Não havia como escapar, afinal, ela não era um mero ser humano, todo poder tinha um custo, e aquele era o seu.
Antes mesmo de ler o cartão o corpo de Rae já percebia o que aconteceria, seu coração batia forte e acelerado, sua mãos pareciam queimar. A visão escurecia enquanto seus olhos pareciam cada vez mais secos, até que as pálpebras começaram a grudar umas nas outras, tornando o ato de piscar uma tarefa árdua e dolorosa. As últimas palavras que conseguiu enxergar foram aquelas escritas por Liz.
Aquela criatura não era um ser humano, dessa forma, seu destino não poderia se modificar, sua vida tinha apenas um sentido que já estava cumprido, aquele era o fim dela. Seu corpo definhou enquanto ela sentia as mortes que carregava consigo, a maldição da menina se desfez no momento em que a criatura caiu.

***

A chuva caia como o clichê que era naquela situação. Algumas gotas rebatiam no guarda-chuva preto, o mesmo tom que a menina Liz vestia naquele dia. Em suas mãos estavam algumas flores em tons de azul, uma espécie não muito comum, mas que eram as preferidas de sua mãe. Seus olhos estavam limpos, sem maquiagem, porém vermelhos, devido às lágrimas que ainda corriam por sua face.
Ela estava sozinha.
O enterro já havia terminado. As poucas pessoas presentes já haviam voltado para suas próprias rotinas e agora apenas Liz continuava lá, em pé olhando para a lápide com o nome e a foto de Maia Deméter. A garota sabia – simplesmente por saber – que a maldição dos presentes havia terminado e que podia enviá-los livremente agora, mas o que isso custara ela nunca poderia esquecer.
Ajoelhou-se depois de alguns minutos, deixou a flor junto à foto da mãe e tirou de sua bolsinha preta um último embrulho. Era azul, como tinha de ser, não havia outra cor para simbolizar aquela mulher, apenas o azul. O que estava dentro dele era algo que só Liz e Maia tinham o direito de saber, era um momento apenas das duas, e ninguém mais deveria se intrometer naquela cena. O pacote então foi colocado cuidadosamente ao lado da flor e depois de mais alguns minutos Liz finalmente levantou-se e saiu daquele cemitério.
Na lápide jazia um conjunto composto por flores, lágrimas e embrulho.

I Should Go


Esse texto foi escrito em Junho de 2012.

Agradecimentos: À Lisa, por me incentivar a tirar a ferrugem dos meus dedos e o pó do meu teclado. Obrigada por me mandar escrever, filha.



I should go

Eu deveria ir, antes de me render a tudo que poderia acontecer na linha de nossos destinos. Antes de saber se essas linhas no fim se juntariam formando apenas um caminho. Antes mesmo de ter certeza se algum dia elas realmente se uniram – mesmo que por um breve momento – ou apenas se cruzaram.

Eu deveria ir antes de desperdiçar sua vida.

Ah, mas você continua sorrindo para mim, me olhando enquanto seus olhos mantêm esse brilho que só eles sabem ter. Fazendo-me lembrar de tudo que temos em comum, de tudo que passamos, vivemos. Lembrando-me que sua companhia sempre foi tudo que eu tive, sempre foi tudo que importava.

E aqui estamos nós.

Você continua comigo, e eu sei que nunca teria coragem de me abandonar, mesmo que tal ato seja o único que eu realmente tenha direito, que faça jus ao que sou. E é tão difícil deixá-la, mesmo sabendo que é o melhor que posso fazer por você. Ah, eu apenas deveria ir.

Deveria apenas deixar meu egoísmo, ao menos uma vez.
E deveria deixá-la junto com ele.
É a única forma de fazê-la feliz.

Eu deveria ir antes que minha vontade se enfraqueça, antes que meus olhos comecem a protelar por mais tempo do que deveriam, antes que eu perca meu senso de razão. Antes que esse momento tenha mais significado do que jamais deveria ter.

Mas é tão difícil.
Eu deveria ir.
Apenas.
Para longe de você.


Mas talvez as palavras sejam mais fáceis que as ações.
E talvez esse momento já tenha mais significado do que deveria.

E talvez eu apenas não consiga...

Deixá-la.

De E. para A.



Esse texto foi escrito em Fevereiro de 2012, para o desafio de Cartas.

Agradecimentos: À Rai, pela valiosa opinião e por ser sempre uma amiga tão importante, te amo muito, sogra. Obrigada.



Dedico essa carta a você, meu querido A, mesmo sabendo que provavelmente você nunca venha a lê-la.


Querido A,

Talvez nesse momento já seja tarde demais para te dizer adeus, ou talvez seja cedo demais, mas preciso seguir minha estrada. Ah, querido, preciso te deixar, mesmo com a incerteza rondando minha mente.

E preciso que também me deixe ir.

Tantas e tantas vezes te envolvi em meus braços num mero cumprimento, e tantas e tantas vezes olhei em seus olhos e menti que tudo estava bem. Ora, sim, menti, pois como poderia estar tudo bem se você não me amava como eu te amo? Sim, te amo, no presente, pois sempre te amarei e você nunca será meramente parte do passado.

Queria apenas que você olhasse em meus olhos e visse toda a verdade por trás da suave superfície azulada.

Talvez seja tarde demais e minha felicidade já tenha se perdido nas linhas do destino que nós traçamos. Ou talvez se eu esperasse mais você conseguisse me amar, mas não consigo mais esperar. E quem sabe um dia não poderemos nos ver novamente? Afinal, existe aquela frase que diz que o que é para ser seu sempre volta, e talvez eu acredite nela.

Talvez...

Acho que já me cansei dessa palavra.

Mas querido, peço que quando o dia do nosso reencontro chegar – se é que esse dia realmente existe –, você possa olhar em meus olhos e ver o que eles falam, e não apenas acreditar em tudo que sai de meus lábios.

Não que seja completamente uma mentira, afinal, estar ao seu lado sempre me faz estar bem, mesmo que eu saiba que isso me destruirá depois. Estar ao seu lado sempre me faz esquecer todos os outros problemas, porque na verdade aproveitar nossos momentos é mais importante do que qualquer problema que possa existir.

Eu te amo.

Sim, amo. Por mais que muitas vezes tenha estado confusa sobre essa questão. Mas nessas vezes também cheguei a conclusão de que a sentença era correta. Sim, eu te amo.

Não nego que criei cenas nossas em minha mente, que imaginei nossos beijos e carícias. Que imaginei também uma aliança com seu nome em minha mão. Ah, sim, eu imaginei. Várias vezes por sinal.

Mas não devo me estender mais, não quero que fique triste apenas pelo fato de que eu me sinto assim. Sei que se importa comigo, mesmo não me amando.

Espero pelo dia que poderemos nos reencontrar.
Sempre esperarei.

Com amor.
Sua eterna E.

Devaneios

Esse texto foi escrito em Dezembro de 2011.


 
“E quando ela abriu os olhos já não era mais Rainha. Era apenas uma menina, sentada na cama no meio da noite.”
Sobre Abraços e Só – Felipe Trevisan


O escuro do quarto penetrava pelos olhos claros da menina-mulher, enquanto ela respirava ofegante. Em sua visão do sonho, tudo era claro e seguro, belo e feliz, não havia lugar para tristezas e angústias. Aos poucos seus olhos foram se acostumando a pouca luminosidade do recinto, assim como sua mente aos poucos foi se acostumando com as brincadeiras de mau gosto que a vida insiste em pregar em cada um de nós.

Sua mente teimava em vagar por aquele labirinto de pensamentos que ela nunca conseguiria escapar, muito menos desvendar. Ela continuava enredando-se entre os corredores confusos e ziguezagueantes, trombando com obstáculos de todos os estilos que se pode imaginar, mas nunca desistindo. Oh, não, ela não poderia nunca desistir, afinal, aquele era seu mundo, sua vida.

Sonhos, ah, isso era tudo que ela podia contar. Sonhos que talvez um dia se tornassem realidade, mas talvez um mero talvez possa cansar em alguns momentos da jornada.

Certeza, isso é o que faltava em seus dias. Certeza de que tudo daria certo, de que seu final feliz finalmente chegaria. Certeza de que um dia ela conseguiria construir seu próprio conto de fadas, mesmo que este não fosse perfeito – porque nessa vida talvez nada seja perfeito, afinal.

Mas pelo menos esperança – e pelo menos por enquanto – ela ainda possuía, e era isso que não a deixava abandonar seus sonhos e desejos. Ela continuava correndo atrás da felicidade, continuava juntando os tijolos que compunham seu conto de fadas particular.

Ah, mas ela também tinha mais do que sua vida para se sustentar, ela tinha pessoas para ajudá-la, amigos, irmãos. Ela tinha seus pontos de apoio, tinha quem ajudasse quando as trombadas no caminho fossem demasiadamente fortes e a derrubassem ao chão. Ela tinha também mãos dedicadas para colocar alguns tijolos em seu lindo conto de fada.

E com esses pensamentos talvez confusos, ela seguia sua vida. Ela conseguia novamente fechar seus olhos e deixar o sono sem sonhos preencher o resto de sua noite, apenas para que mais um dia – talvez, sempre talvez, desesperador – se repetisse.

Sleeping in Paradise


Esse texto foi escrito em Novembro de 2011, como presente para Dine. Também era um apanhado de capítulos seguindo o plot de base, cada um escrito por um amigo.



 O Mundo de M.
Maah

“Acorde.” – ela ouviu a voz ecoando em sua mente.

Seus olhos se abriram e a primeira coisa que notou foi o rosto que a encarava, a combinação dos olhos azuis e a pele clara tornavam aquele rosto familiar, mas Dine não conseguia se lembrar de muita coisa.

“Acorde.” – a voz repetiu, e dessa vez, mesmo sem notar um movimento de lábios, ela tinha certeza que era a garota a sua frente que falava.

Um rufar de asas. Um sorriso. Um piscar de olhos e outro rufar de asas. E a cada segundo tudo parecia ficar mais claro na mente de Dine, aquele rosto que a encarava, havia uma palavra para ele, que aparecia involuntária em sua mente: Prima.

Por trás do rosto, agora Dine conseguia observar alguns outros detalhes, um céu azul, nuvens claras em formatos meio mágicos, folhas de uma árvore que balançavam com o vento, mas, as folhas possuíam um tom azulado que não era normal. Ora, não era um tom azulado, agora ela percebia, eram apenas as asas azuis e finas que estavam antes das folhas.

Asas? Então ela finalmente despertou, sentou-se e finalmente entendeu quem era aquela garota. Era uma fada, a tal fada azul de nome conhecido que ela já ouvirá falar em alguns pequenos contos.

– Você é M. A fada azul, não é? – ela perguntou, apenas para confirmar as suspeitas.

“Sim.” – a resposta surgiu em sua mente. – “Mas você sempre poderá me chamar de prima, mesmo que às vezes se esqueça, esse parentesco sempre existirá.”

– Mas que lugar é esse? – questionou pensativa.

“Ah, isso. Você pode chamar de sonho, o que não significa que seja irreal.” – a fada sussurrou a resposta em sua mente. – “É um lugar onde você sempre poderá me encontrar. Quando desejar, agora que já conhece o caminho, basta fechar os olhos e logo chegará.”

Dine ouviu aquelas palavras ressoarem em sua mente, e não demorou a perceber o sentido que havia por trás delas: A hora de partir estava próxima. E ao constatar isso, começou a sentir seus olhos pesando, em poucos segundos ela não conseguiria mais mantê-los abertos, mas ela não queria ir ainda.

– Queria ficar mais. – confessou em voz alta.

“Ainda há muitos lugares para conhecer, e o sono é curto. É hora de partir, mas você poderá voltar.” – M. falou antes que os olhos da garota se fechassem de vez.